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sábado, 11 de dezembro de 2010

Invento: O movimento de existir.

Photo de Leo Lopes



"Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento - mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos  deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio de imaginação. Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.  E dei de estuda pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber. Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo - o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase : A imaginação é mais importante do que o saber.  Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas. E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bentevi.”


Manoel de Barros; "Memórias Inventadas - A Terceira Infância", Editora Planeta - São Paulo, 2008, tomo X.

2 comentários:

  1. A Guilherme Vergara: Agradeço a partilha deste texto das Memórias Inventadas de M. B. que recebemos hoje.
    Somos aquilo que inventamos. Que a afirmação ecoe...

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  2. Faz graça ler Manoel. Ele apresenta a existência crua, lança a experiência no campo, na simplicidade complexa que busca entender as coisas, sem OntologiaS, mas com sabedoria pré-teórica, intuída das coisas. Bonito. Muito Bonito.

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